Uma professora que está engajada na luta pela construção de uma sociedade mais juta, humana e igualitária tem por dever trabalhar a diversidade étnica do Brasil, valorizando a diversidade e incentivando o respeito a todos.
Porém, enquanto professora branca, tenho bastante dúvidas. Estaria eu abordando o tema corretamente?
Sempre considerei todos os livros e filmes sobre a temática da diversidade fossem bons, porém ao ler o texto A diferença étnico-racial em livros brasileiros para crianças: análise de três tendências. contemporâneas percebi as diversas abordagens que este tema pode ter e pude selecionar as que achei mais interessantes.
Aproveito a oportunidade para compartilhar de um projeto que realizei em uma escola de Educação Infantil em Esteio chamado "A Boneca Negra Viajante" para que minhas colegas, tutoras e professoras possam opinar a respeito.
PROJETO
A BONECA NEGRA VIAJANTE
Com intuito de oferecer subsídios e
ferramentas de trabalho para que as professoras da EMEI PedacinhoComo metodologia, foi disponibilizada
para a escola uma boneca negra de pano de aproximadamente um metro. Esta boneca
negra não tinha rosto, cabelos ou roupas, era apenas uma boneca de pano
simples. A boneca, então, passou por todas as turmas, a começar, pelo Berçário
1 até chegar ao Jardim 2B. Cada turma ficou com a boneca pelo período de uma
semana.
Cada turma que receber a boneca deu-lhe um
acessório para a sua caracterização como sambista (uma peça de roupa, os cabelos,
sapatos ou demais acessórios) e também ficou responsável por lhe atribuir uma
caraterística pessoal (nome, idade, comida preferida, etc.)
Partindo da rotina da educação infantil,
onde a “rodinha” é de suma importância na rotina escolar, é um momento onde
todos podem falar e serem ouvidos pensou-se na fusão destes dois momentos: a
roda de samba e a rodinha escolar. Na roda pode ser apresentada e/ou
confeccionados instrumentos musicais do samba, bem como demais componentes da
cultura oriunda da população negra como a culinária, lendas e etc.
As atividades realizadas com a boneca
ficaram a critério da criatividade das professoras de cada turma, observando os
objetivos propostos pelo presente projeto.
Na turma de Maternal I a boneca ganhou
um nome: Bianca Beatriz. A turma ainda presenteou a boneca com uma calcinha.
No Maternal II a boneca ganhou as
orelhas e nariz. Foi realizada uma festa de aniversário para Bianca Beatriz
onde ela recebeu muitos presentes (roupas, mochila, calçados e até mesmo uma
banheira para que tomasse banho). A boneca passeou com a turma, foi ao
refeitório lanchar e sempre dormia com uma das crianças, na hora do sono.
No Jardim I a boneca fez um bolo de
chocolate com as crianças, bem como participou ativamente das atividades da rotina
da turma.
Ao chegar no Jardim II, Bianca Beatriz
já tinha olhos, cabelos e um álbum com fotos de sua família, que as crianças
recortaram de revistas. No Jardim II, Bianca Beatriz mostrou aos alunos um
instrumento musical chamado cavaquinho. Os alunos manusearam o instrumento
trazido pela boneca e fizeram cavaquinhos de sucata. A boneca também mostrou a
música “Sorriso Aberto” de Jovelina Pérola Negra. Os alunos gostaram bastante
da música e foi feito um clipe com os alunos dançando a música junto com a Bianca
Beatriz.
A culminância do projeto se deu através
da exposição dos trabalhos realizados e da boneca Bianca Beatriz na Semana da
Consciência Negra da escola e no saguão da Prefeitura Municipal de Esteio.
Todas as professoras trabalharam de
maneira criativa e interessada no projeto e o resultado foi maravilhoso: lindos
trabalhos e os alunos felizes com as novas descobertas e aprendizagens.
do Céu
colocassem em prática a Lei Federal 10.639 de 09 de janeiro de 2003, que torna
obrigatório o ensino da história e da cultura da África, bem como a cultura negra brasileira e o negro na
formação da sociedade nacional, (BRASIL, 2003) foi elaborado um projeto com a
utilização de uma boneca negra de pano.
Este
projeto também visou a construção de uma identidade pessoal positiva pelos
alunos negros da escola, bem como a construção de relações de respeito e
igualdade entre os alunos negros e não negros.
O principal objetivo deste projeto foi
conhecer, de maneira lúdica e prazerosa, as principais contribuições culturais
de origem africana do nosso país. A partir deste objetivo, procurou-se também
proporcionar aos alunos conhecer o ritmo musical samba bem como os instrumentos
musicais que o compõem, participar de culinárias de pratos de origem africana,
construir coletivamente o personagem do sambista, conhecer alguns sambas clássicos,
entre eles o “Sorriso Aberto” da Jovelina Pérola Negra, conhecer a contribuição
cultural da população negra brasileira, respeitar a diversidade étnica do
Brasil, construir uma identidade negra positiva, participar da roda de samba e
construir instrumentos musicais de sucata.