domingo, 10 de julho de 2016

Música na Escola

Sempre utilizei, de uma forma ou outra, a música como recurso didático. Sendo cantando uma música para realizar alguma atividade, ou analisando a letra de alguma música, linkando com algum conteúdo que estava sendo estudado pela turma.

Até então, achava que estava explorando todas as possibilidades que uma pessoa leiga em relação a saber tocar um instrumento musical ou dar a afinação correta à voz, poderia dar.

Porém, com os estudos da interdisciplina de Musicalidade percebi que a música pode ser usada de diversas formas e que até podemos perceber formas de ler uma partitura, coisa que antes era um mistério para mim.

Outra coisa muito importante que a interdisciplina trouxe, foi a importância dos cuidados com a voz, que é uma das ferramentas de trabalho essenciais para o trabalho do professor.

Sempre utilizo a música "O dia em que a Terra parou" de Raul Seixas para trabalhar com os alunos o dia do Trabalhador. Através da letra desta música, convido os alunos a refletirem sobre a importância de todos os profissionais para a nossa sociedade.

O dia em que a Terra parou
(Raul Seixas)

Essa noite eu tive um sonho
de sonhador
Maluco que sou, eu sonhei
Com o dia em que a Terra parou
com o dia em que a Terra parou

Foi assim
No dia em que todas as pessoas
Do planeta inteiro
Resolveram que ninguém ia sair de casa
Como que se fosse combinado em todo
o planeta
Naquele dia, ninguém saiu de casa, ninguém ninguém

O empregado não saiu pro seu trabalho
Pois sabia que o patrão também não tava lá
Dona de casa não saiu pra comprar pão
Pois sabia que o padeiro também não tava lá
E o guarda não saiu para prender
Pois sabia que o ladrão, também não tava lá
e o ladrão não saiu para roubar
Pois sabia que não ia ter onde gastar

No dia em que a Terra parou (Êêê)
No dia em que a Terra parou (Ôôô)
No dia em que a Terra parou (Ôôô)
No dia em que a Terra parou

E nas Igrejas nem um sino a badalar
Pois sabiam que os fiéis também não tavam lá
E os fiéis não saíram pra rezar
Pois sabiam que o padre também não tava lá
E o aluno não saiu para estudar
Pois sabia o professor também não tava lá
E o professor não saiu pra lecionar
Pois sabia que não tinha mais nada pra ensinar

No dia em que a Terra parou (Ôôôô)
No dia em que a Terra parou (Ôôô)
No dia em que a Terra parou (Uuu)
No dia em que a Terra parou

O comandante não saiu para o quartel
Pois sabia que o soldado também não tava lá
E o soldado não saiu pra ir pra guerra
Pois sabia que o inimigo também não tava lá
E o paciente não saiu pra se tratar
Pois sabia que o doutor também não tava lá
E o doutor não saiu pra medicar
Pois sabia que não tinha mais doença pra curar

No dia em que a Terra parou (Oh Yeeeah)
No dia em que a Terra parou (Foi tudo)
No dia em que a Terra parou (Ôôôô)
No dia em que a Terra parou

Essa noite eu tive um sonho de sonhador
Maluco que sou, acordei

No dia em que a Terra parou (Oh Yeeeah)
No dia em que a Terra parou (Ôôô)
No dia em que a Terra parou (Eu acordei)
No dia em que a Terra parou (Acordei)
No dia em que a Terra parou (Justamente)
No dia em que a Terra parou (Eu não sonhei acordado)
No dia em que a Terra parou (Êêêêêêêêê...)
No dia em que a Terra parou (No dia em que a terra
parou)


ECA - Estatuto da Criança e do Adolescente

É senso comum quando se fala em Estatuto da Criança e do Adolescente dizer que o ECA só trouxe direitos e que por isso as crianças e jovens estão sem limites, educação e respeito. Ouço esta afirmação, inclusive, de colegas professoras.

Porém discordo bastante. O Eca traz cinco direitos fundamentais à criança ao ao adolescente. São eles: 

1 - Do Direito à Vida e à Saúde
2 - Do Direito à Liberdade, ao Respeito e à Dignidade
3 - Do Direito à Convivência Familiar e Comunitária
4 - Do Direito à Educação, à Cultura, ao Esporte e ao Lazer
5 - Direito à Profissionalização e à Proteção no Trabalho

Ao analisar cada um destes direitos, eu não vejo nenhum exagero, seja na quantidade de direitos bem como no conteúdo dos mesmos. São realmente direitos básicos e fundamentais para a formação de um cidadão.

Porém o que posso acrescentar, ao analisar estes direitos é que a maioria deles, senão todos, não são garantidos de maneira efetiva pelo poder público às crianças e jovens no Brasil.

A maioria das crianças e adolescentes não tem acesso à saúde e educação públicas de qualidade, bem como a cultura, esporte e lazer são muito raros.

Sem falar da cultura machista que impera neste país, onde as mães são totalmente responsabilizadas pela educação e criação dos filhos e os homens são eximidos desta tarefa, colaborando para a não convivência familiar plena para os jovens e crianças.

Poderia ficar por muito tempo citando de que maneira o estado, a sociedade e as famílias negligenciam os direitos fundamentais previstos no ECA, mas o que eu quero destacar no momento é que não acredito que exista um exagero de direitos para os adolescentes e crianças nesta lei e que por isto a delinquência e indisciplina tenha aumentado entre eles.

Acredito que a não garantia de exercício pleno destes direitos fundamentais é que tem acarretado tais danos.


O respeito ao professor

No início do mês de maio comecei a trabalhar com uma turma de terceiro ano. Esta turma passou cerca de um mês sem professora porque a antiga professora pediu para trocar de escola pois não soube como lidar com os graves problemas de indisciplina que a turma apresentava.

Aceitei o desafio e encarei ficar com aquela turma (como boa ariana que sou, nunca nego um desafio). Porém, confesso, não tem sido fácil. Os problemas da turma são realmente muito sérios e é muito difícil trabalhar com eles. Durante estes dois meses eles apresentaram muitos avanços, porém cada dia é uma batalha.

Então surgem muitos questionamentos na minha cabeça, mas o que mais martela ultimamente é: "qual foi o momento exato em que o papel professor perdeu totalmente o respeito?"

Até o início do século passado, o papel do professor era visto como de autoridade e respeito. Muitas vezes, o professor era autoritário e a educação era excludente com aqueles que não aprendiam conforme o professor ensinava (era o aluno que devia se adaptar ao modelo de ensino e não havia possibilidade de variar a metodologia de ensino para atingir um número maior de alunos).

Claro que este modelo de professor estava errado. Gerava exclusão e tolhia a liberdade e autonomia dos alunos.

Logo começou a ser repensado por vários teóricos, passando pelos escolanovistas e o Manifesto dos Pioneiros.

Nos anos 70 e 80 teóricos como Paulo Freire falam em "amor" e "boniteza" no ato de ensinar, afim de construir um professor mais próximo ao aluno e sua realidade.

Em 1996 é recriada a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional à luz destas novas concepções de educação. O texto da nova lei trata do acesso universal e obrigatório à educação e esta como sendo obrigação do poder público.

Respondendo a pergunta que lancei inicialmente, acredito que na troca destes dois modelos de professor os quais vamos chamar de "rígido" e "amoroso", alguma coisa se perdeu e o respeito pela figura do professor tornou-se cada vez mais escasso.

Respondi, no parágrafo acima, quando o respeito pelo professor se perdeu. Porém há outro questionamento a ser feito sobre este mesmo tema: como este respeito pela figura do professor se perdeu.

E para esta questão eu não tenho uma resposta definida. Talvez com o arrocho dos salários dos professores, que até a década de 1960 era um salário digno e que com o passar dos anos deixou de se-lo. Talvez com o papel da escola que cada vez mais abraça funções que antes eram das famílias como cuidar, educar, ...

Confesso que esta questão eu ainda não sei responder.

Projetos de Aprendizagem

Diferente do que o senso comum pensa, o professor não é aquele que transfere os conhecimentos ao aluno. O papel do docente é de despertar no aluno a curiosidade sobre o saber para que ele construa o seu conhecimento.

Para que isso ocorra, o professor deve usar-se de metodologias de trabalho que cativem no aluno a curiosidade pelo conhecimento. Os projetos de aprendizagem, neste sentido, se apresentam como forma bastante eficaz.

Através da utilização dos projetos de aprendizagem, os alunos podem criar suas hipóteses, testar suas possibilidades de veracidade e chegar às suas próprias conclusões. O professor não tem o papel de trazer a resposta pronta para o aluno, mas sim de auxiliá-lo no caminho da descoberta.

Desta maneira o aluno tem a autonomia do seu processo de aprendizagem, construindo o seu próprio conhecimento. Com certeza este tipo de aprendizagem será muito mais significativa do que aquela meramente transferida, como diz Paulo Freire, de maneira bancária.

O valor dos contos de fada

Os contos de fada são de domínio da maioria das crianças: todas já entraram em contato com as histórias clássicas seja através de oralidade, ouvindo as histórias sendo contadas pelos adultos ou pelos filmes e desenhos.

Estas histórias são muito ricas em suas tramas e trazem temas muito interessantes que podem ser usados de diversas formas.

No ano de 2012 eu lecionava para uma turma de Jardim 2 com faixa etária de 5 a 6 anos e percebi que a turma tinha muito interesse pelos contos de fadas. Havia um canto da leitura na sala, e os livros favoritos da turma sempre eram eram os contos de fada.

Quando as crianças manipulavam estes livros, a frase que eu ouvis era sempre a mesma "conta esta historia pra mim?". Então iniciei um projeto com a turma com este titulo, sobre os contos de fadas. Neste projeto, eu trabalhava um conto de fadas clássico, seguido de uma releitura do mesmo. Desta forma, depois de trabalhar com a historia da Branca de Neve e os sete anões, trabalhei a historia da Pretinha de Neve e os sete gigantes.

As crianças gostavam muito de ver novas versões para a mesma historia, isso ampliava-lhes as possibilidades de interpretação. Foi um projeto bem rico.

Na foto abaixo, a turma fez um delicioso bolo de maca, provando que as macas nem sempre são envenenadas e que fazem muito bem para a saúde.

Em outro momento, a turma fez uma nega maluca com os feijões mágicos do João e o Pe de Feijão e também fizeram o pe de feijão bem comprido no papel pardo e com folhas de revista:







O brincar na escola

O brincar é uma ação natural da criança, é a sua forma de descobrir o mundo que a cerca, apropriar-se de sua cultura, bem como produzir a sua própria cultura. Nas brincadeiras, as crianças não só se socializam, como criam a recriam conceitos, bem como experimentam e testam novas possibilidades.

As brincadeiras são vistas com bons olhos na Educação Infantil pelos pais, pois há uma imagem errônea de que neste período de escolarização a criança não está aprendendo, apenas está no ambiente escolar para ser cuidada durante a ausência dos pais.



Já no ensino fundamental o brincar é visto como perda de tempo, pois a visão que a maioria das pessoas têm é de que a partir de agora a criança está na escola e quanto mais "produzir" em registros escritos (cadernos, folhas, etc.), maior é a sua aprendizagem.

É uma árdua tarefa demonstrar aos pais que com jogos e brincadeiras as crianças aprendem muito mais do que com exercícios de reprodução no caderno.

Como também não é tarefa fácil utilizar-se de jogos em sala de aula, haja vista a realidade da maioria das escolas: falta de material, de horário de planejamento, de condições de trabalho e etc. que acabam muitas vezes se tornando empecilhos para que o professor utilize-se de metodologias mais atrativas para as crianças, tais como jogos e brincadeiras.

Porém não podemos desanimar. O professor deve usar-se de toda a criatividade possível para tornar suas aulas mais dinâmicas através de uma metodologia de trabalho mais condizente com a realidade infantil.


Afinal, como diz em uma das falas do documentário "O território do brincar", a infância não pode ficar esperando pelas crianças no lado de fora da escola.


Uma história única sobre a surdez.



Para uma das atividades da Interdisciplina de Libras, foi recomendado que assistíssemos o vídeo "O perigo de uma história única", uma palestra proferida pela escritora nigeriana Chimamanda Adichie. Nesta palestra, ela fala sobre sua experiência pessoal quando foi estudar nos Estados Unidos e a imagem pré concebida que algumas pessoas tinham do seu país.

Esta imagem pré concebida é o que ela chama de "História Única" que as pessoas têm de determinados lugares e culturas. A escritora fala, também, das imagens distorcidas que tinha sobre os mexicanos.

Estas imagens que as pessoas têm são obtidas através da mídia e, como sabemos, esta é controlada por grupos pertencentes às mais altas elites financeiras. Portanto, somos diariamente bombardeados pela imagem que estes grupos querem que tenhamos das coisas, e não das coisas como elas realmente são.

É importante sempre nos questionarmos até que ponto eu conheço determinada cultura ou apenas conheço o que falam dela nos grandes veículos de mídia para que não caiamos na armadilha de repetir uma história única de algo que nem conhecemos de fato, perpetuando assim preconceitos e falsas informações.

Isto foi o que me aconteceu em relação à comunidade surda. Até antes de cursar a interdisciplina de Libras eu pouco sabia sobre a comunidade surda. Ignorantemente, tinha pena dos surdos e de sua "incapacidade" de se comunicar com as outras pessoas, como se a única forma de comunicação fosse a fala. Não sei da onde tirei esta "história única" sobre a comunidade surda, só posso dizer que ela está completamente errada.

Os surdos não só podem comunicar-se com os ouvintes, bem como fazem parte de uma cultura única a qual, infelizmente, nós, ouvintes, temos pouco acesso devido à falta de conhecimento em Libras. Com o término desta interdisciplina, ficou para a mim a certeza da urgência de escolas bilingues.