domingo, 24 de abril de 2016

O carinho que nos faz continuar.


Sim, meu trabalho é muito difícil. Desgastante. Mal remunerado. Sem as condições mínimas: material, xerox, papel higiênico nos banheiros... Sim, às vezes eu desanimo.

Mas então eu tenho diálogos maravilhosos como este:

- Profe, tu é muito bonita.
- Obrigada, Thomas.
- Bonita por dentro e por fora!

Pronto! Tudo passa! E eu me torno aquela professora cheia de vida, de vontade e de alegria. É este carinho inocente que enternece o coração e nos dá forças para matar aquele leão por dia que é a profissão professora.

Outro dia surpreendi duas alunas conversando durante o lanche no refeitório.

- Como a nossa professora é bonita, né?
- É mesmo, é a mais bonita da escola!
- Ela parece a Frozen, né?
- Aham! Parece mesmo!

Então? Concordam com as alunas??? kkkkk





Dia do Índio X Dia Internacional dos Povos Indígenas. como trabalhar em sala de aula???


Como tratar a questão dos indígenas na escola? Este sempre é um tema que me enche de dúvidas. Vou postar hoje o que sei a respeito deste tema, bem como as minhas dúvidas.

O tradicional Dia do Índio sempre foi comemorado no dia 19 de abril. Nesta data, nos anos quarenta, ocorreu o primeiro Congresso Indigenista Interamericano. Porem esta data não é tão significativa do ponto de vista dos indígenas quanto o 09 de agosto de 1995, quando o primeiro índio chegou à sede da ONU para reivindicar os direitos dos índios.

Outro ponto a ser destacado, é que não devemos usar a expressão "índio" ou "indígena", pois existem diversas culturas indígenas, haja visto que existem muitas tribos e que estas ocupam diferentes regiões, tendo cada uma um tipo de cultura específica.

Outro ponto muito importante quando falamos de cultura indígena é não repetirmos esteriótipos clássicos como "o índio ama a natureza", "os índios são povos pacíficos", "os índios só vivem nas florestas".

É importante salientar com os alunos que existem índios que ainda vivem em florestas e vivem de maneira tradicional, e que há os que moram nas cidades, trabalhando, estudando e que nem por isso deixam de ser índios.

Bom, isso é o que depois de cursos e palestras sobre o tema é  que eu já sei. Mas estes conhecimentos não me deixam totalmente segura de que minha prática esteja correta.

Este ano, na minha turma de primeiro ano, eu contei a história do livro Abaré. Este livro narra através de imagens o dia de um pequeno índio na floresta.






Contei a história aos alunos, que na verdade iam lendo as imagens comigo e criando a história. Eles gostaram bastante pois foi a possibilidade de eles "lerem" um livro sozinhos ou uns para os outros. Salientei vários pontos: de que o Abaré (sim, demos este nome ao indiozinho da história) vivia na floresta mas que havia índios que viviam na cidade. E neste momento alguns alunos disseram já terem visto índios "no centro" em situação de mendicância.

Bom, neste momento eu não soube o que dizer. Como explicar esta situação para as crianças de seis anos???

Também salientei que o Abaré vivia na floresta e que respeitava os animais, Neste momento um aluno disse que viu na TV um índio que matava um animal. Expliquei que na verdade ele estava caçando para se alimentar, visto que na floresta não tem mercado para comprar alimentos, como há na cidade. Será que fiz certo?

Ao chegarmos na sala, alguns alunos encontraram um lagartixa na janela. Orientei-os para que não a matassem, por que a lagartixa é um animal que não nos faz mal e que devemos ser amigos dos animais, como o Abaré. Dúvida de novo: fiz certo?

Depois, pintamos e montamos um boneco de papel do índio Abaré e copiamos seu nome na folha. Esta foi uma boa atividade?

O tema dos povos indígenas ainda está encoberto de nuvens para mim. Nunca tenho a certeza de ter feito um trabalho correto, por mais que eu tente me informar.

Não sejamos Professoras Helenas!!!

No meu primeiro ano do curso de Magistério, em uma das disciplinas (a qual agora eu não lembro qual) foi nos solicitado que lêssemos o livro "Ofício de Mestre" de Miguel Arroyo. Foi a leitura deste livro, juntamente com o "Pedagogia da Autonomia" de Paulo Freire que me fizeram amar a docência. Através da leitura destas duas obras pude perceber que a educação é uma das formas mais eficientes de transformação da sociedade. Fiquei maravilhada com as leituras destas obras, que destacam a importância fundamental que um professor crítico e consciente de seu papel pode ter na construção de uma sociedade mais justa, humana e igualitária.

Porém, fico extremamente chateada ao perceber que nem todas as minhas colegas pensam desta forma. Alienadas sobre política e economia, ou simplesmente desanimadas com as perspectivas de futuro da nossa sociedade, escondem-se atrás do perfil de "Professorinha Helena". Limitam a sua prática pedagógica à sala de aula, não participam dos sindicatos, dos movimentos sociais, etc. por acreditarem que seu dever é somente ensinar a ler, escrever e as quatro operações básicas.



No capítulo do livro de Miguel Arroyo ele fala sobre a imagem do professor"

"Os olhares sobre as professoras e os professores de educação primária e fundamental têm destacado por décadas as mesmas imagens: tradicionais, despreparados, desmotivados, ineficientes... e por aí vai. (...) As análises mais progressistas, até de lideranças, ás vezes destacam outras tonalidades nesse velho e desfigurado quadro: despolitizados, alienados, sem consciência de classe, sem compromisso político, desmobilizados. (...)" ARROYO, Miguel. Ofício de Mestre. p. 203

Vejo muito esta imagem de professor entre os/as colegas que convivi e ainda convivo. Um professor sem consciência social e política, a meu ver, é um meio professor. Não pode se considerar um professor completo. Um professor que se abstém das lutas de sua categoria ou que ignora a política, não está fazendo seu trabalho de forma efetiva.

Deixemos de ser "Professorinhas Helenas", com uma imagem meiga e dócil e passemos a ser professores e professoras conscientes de seu papel transformador para a sociedade!


A Educação Infantil prostituída

Durante os últimos quatro anos trabalhei na rede municipal de Esteio na modalidade da educação infantil. Por motivos diversos, este ano resolvi me exonerar do funcionalismo de Esteio e ficar no do Estado, no ensino fundamental.

Neste momento, faço uma reflexão sobre a professora de educação infantil que fui e sobre a educação infantil como um todo, em especial, especificamente no município de Esteio.

Estes quatro anos na educação infantil foram de muto aprendizado para mim. Descobri e desenvolvi em mim qualidades profissionais que eu nem sabia que tinha como a afetividade e a criatividade. Porém, fui tolhida na minha característica profissional que mais admiro: a consciência social.

A meu ver, a educação infantil não parece ser lugar para se trabalhar a questão de gênero, a diversidade étnica ou qualquer outro problema social (pelo menos a educação infantil que vivenciei no município de Esteio). Quando qualquer um dos assuntos acima citado é tratado na escola, ocorre de maneira superficial, apenas para cumprir um programa. (ou como diz o ditado popular: "apenas pra inglês ver").

Tudo na educação infantil tem que ser "bonito". Então só se pode falar do que e bonito: da primavera, da Pascoa, dos alimentos, ... Falar da diversidade étnica e cultural, dos deficientes físicos, das questões de gênero e etc. não e "bonito", logo não e assunto para a educação infantil.

Nestes quatro anos tentei, e muito, remar contra esta mare. Por algumas vezes, inclusive, me indispus com direções e supervisões de escola ao insistir que a educação infantil também e lugar de desenvolver uma consciência social. Porem, admito, fui vencida. E este foi um dos motivos que me levou a abandonar a educação infantil (pelo menos por enquanto).

Muitas vezes ouvi frases como "os pais não gostam deste tipo de trabalho", "o teu trabalho não fica bom para expor para os pais", "tu deves tentar agradar mais aos pais". Entendo que se faz necessário o dialogo constante com as famílias. Entendo que a educação infantil e a primeira experiencia escolar das crianças, logo os pais são bastante ansiosos. Mas não acredito que o trabalho pedagógico deva ser pautado nas vontades e nos desejos dos pais, unicamente. A profissional de educação ainda sou eu. Uma educação baseada em "agradar os pais, a meu ver, 'e uma educação prostituída.

Sinto-me mais livre no ensino fundamental para fazer estas reflexões importantes com os alunos sobre racismo, preconceito, questão de gênero entre outros, mesmo com os alunos dos primeiros anos do fundamental. Seja através da leitura de um livro, um filme ou discutindo fatos do cotidiano, nunca recebi criticas por conversar com os alunos temas tao pertinentes para a construção de uma sociedade mais humana, justa e igualitária (uma das funções primordiais da escola, na minha opinião.)

Quem sabe, um dia, eu retorne este "briga" na educação infantil. Mas no momento, resolvi abandonar esta batalha, em nome de uma qualidade de trabalho e de vida melhores.


A casa na árvore da turma 13

Então o ano letivo de 2016 começou. E este ano inicia para mim com uma novidade: vou dar aula para uma turma de primeiro ano, ano para o qual nunca lecionei antes.

Iniciei o trabalho com a turma com atividades lúdicas, como jogos e brincadeiras, a fim de conhecer os alunos e também realizar uma integração entre eles. As primeiras semanas também serviram para eu fazer uma breve sondagem e verificar o que os alunos já sabem.

Em um destes momentos mais lúdicos, os alunos estavam brincando com jogos diversos (quebra-cabeças, dominós, jogos da memória e etc.). De repente, em meio às brincadeiras, um grupo de alunos começou a conversar sobre a possibilidade de a turma ter a sua própria casa na árvore.Aquela ideia agradou a todos naquele momento, então os alunos começaram a decidir como seria a casa na árvore, quem poderia entrar nela e etc.



Em seguida, os alunos envolvidos na ideia da casa da árvore decidiram que deveria ser feita uma festa de inauguração da casa da árvore "hipotética" da turma. Resolveram, também, que para que a festa ocorresse, deveriam ser confeccionados convites com os nomes dos convidados.

Então, os alunos me pediram folhas e começaram a confeccionar envelopes e cartões, utilizando tesoura e cola. Depois, decidiram que deveria ser escrito o nome de cada convidado nos cartões. Para que pudessem convidar todos os colegas, começaram a perguntar uns aos outros como se escrevia seus nomes.

Os alunos soletravam uns aos outros as letras dos seus nomes, Quando o aluno que estava redigindo o convite não sabia como era a letra que o colega havia soletrado, este ia até o cartaz com o alfabeto na sala e mostrava qual letra se tratava.

Até eu, inclusive, recebi um convite com meu nome escrito.

Achei este momento da turma incrível. Sem que eu tenha feito nenhuma intervenção, a turma demonstrou seus conhecimentos e realizou uma grande integração (o que era a minha intenção para aquele momento) e foi muito mais além, organizando uma brincadeira com um cunho pedagógico (alfabetização) bastante complexo.

Penso que no futuro, posso propor uma atividade parecida, visto que a turma demonstrou ter gostado bastante da brincadeira. Algo que envolva um piquenique ou um amigo secreto. Farei o registro no blog assim que realizar a atividade.