domingo, 24 de abril de 2016

A Educação Infantil prostituída

Durante os últimos quatro anos trabalhei na rede municipal de Esteio na modalidade da educação infantil. Por motivos diversos, este ano resolvi me exonerar do funcionalismo de Esteio e ficar no do Estado, no ensino fundamental.

Neste momento, faço uma reflexão sobre a professora de educação infantil que fui e sobre a educação infantil como um todo, em especial, especificamente no município de Esteio.

Estes quatro anos na educação infantil foram de muto aprendizado para mim. Descobri e desenvolvi em mim qualidades profissionais que eu nem sabia que tinha como a afetividade e a criatividade. Porém, fui tolhida na minha característica profissional que mais admiro: a consciência social.

A meu ver, a educação infantil não parece ser lugar para se trabalhar a questão de gênero, a diversidade étnica ou qualquer outro problema social (pelo menos a educação infantil que vivenciei no município de Esteio). Quando qualquer um dos assuntos acima citado é tratado na escola, ocorre de maneira superficial, apenas para cumprir um programa. (ou como diz o ditado popular: "apenas pra inglês ver").

Tudo na educação infantil tem que ser "bonito". Então só se pode falar do que e bonito: da primavera, da Pascoa, dos alimentos, ... Falar da diversidade étnica e cultural, dos deficientes físicos, das questões de gênero e etc. não e "bonito", logo não e assunto para a educação infantil.

Nestes quatro anos tentei, e muito, remar contra esta mare. Por algumas vezes, inclusive, me indispus com direções e supervisões de escola ao insistir que a educação infantil também e lugar de desenvolver uma consciência social. Porem, admito, fui vencida. E este foi um dos motivos que me levou a abandonar a educação infantil (pelo menos por enquanto).

Muitas vezes ouvi frases como "os pais não gostam deste tipo de trabalho", "o teu trabalho não fica bom para expor para os pais", "tu deves tentar agradar mais aos pais". Entendo que se faz necessário o dialogo constante com as famílias. Entendo que a educação infantil e a primeira experiencia escolar das crianças, logo os pais são bastante ansiosos. Mas não acredito que o trabalho pedagógico deva ser pautado nas vontades e nos desejos dos pais, unicamente. A profissional de educação ainda sou eu. Uma educação baseada em "agradar os pais, a meu ver, 'e uma educação prostituída.

Sinto-me mais livre no ensino fundamental para fazer estas reflexões importantes com os alunos sobre racismo, preconceito, questão de gênero entre outros, mesmo com os alunos dos primeiros anos do fundamental. Seja através da leitura de um livro, um filme ou discutindo fatos do cotidiano, nunca recebi criticas por conversar com os alunos temas tao pertinentes para a construção de uma sociedade mais humana, justa e igualitária (uma das funções primordiais da escola, na minha opinião.)

Quem sabe, um dia, eu retorne este "briga" na educação infantil. Mas no momento, resolvi abandonar esta batalha, em nome de uma qualidade de trabalho e de vida melhores.


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