domingo, 25 de dezembro de 2016

Esperança

Este semestre tem sido muito difícil para mim. Por vários momentos pensei em largar tudo, desistir do curso. Tive bloqueios terríveis, não conseguia me concentrar nas leituras e não tinha ânimo para frequentar as aulas presenciais.

Tudo isso por uma única e forte razão: o atual momento político que estamos vivendo. O desmonte da educação. Bem como todos os demais serviços públicos.

Um enorme desânimo e falta de perspectiva tem tomado conta de mim. Não sei como cheguei até aqui neste semestre e também não sei se vou conseguir concluí-lo com êxito. Não está sendo fácil.

O que ainda me dá um fio de esperança e um pequeno sopro de ânimo para continuar são duas coisas:

A memória das resistências, pois sempre penso que se todos tivessem se calado e abandonado as grandes lutas, como a Ditadura Militar no Brasil, por exemplo, não teríamos vivido este breve e frágil momento de democracia.

Outra coisa que ainda me injeta um pouco de ânimo é a esperança que deposito nas gerações futuras e saber o quanto elas precisam de nós agora para a sua formação.

Abaixo, o desenho da minha aluna Nauana que retratou a mim e a ela de mãos dadas. Esta pequena mãozinha que encontra segurança ao segurar a minha, também é um foco de esperança para mim.


O ensino da Matemática

Ao final de todo semestre, sempre acabo elegendo a interdisciplina que me trouxe mais conhecimentos. Este semestre a disputa foi acirrada, pois todas as interdicplinas me trouxeram muito conhecimentos novos. Mas a Interdiscplina Representação do Mundo pela Matemática acabou "vencendo" esta minha disputa pessoal.

Confesso que sempre tive (e tenho) dificuldades em relação à matemática, ela nunca foi minha disciplina favorita na escola.

No momento em que me tornei professora, sempre soube da importância do ensino da matemática, por isso sempre tentei (e ainda tento) romper esta barreira que eu tenho com as ciências exatas.

Porém, com os estudos da interdisciplina, esta tarefa tornou-se um pouco menos difícil.

Pude perceber vários erros que sempre cometi no ensino da matemática. Um dos principais erros que sempre cometi foi associar o ensino da matemática ao uso de algoritmos como única possibilidade de aprendizagem. Sempre utilizei o material concreto, mas sempre com o registro no papel dos "números". Hoje percebo que tal uso, muitas vezes, não fazia sentido para os alunos. Faria muito mais sentido construir o conceito mentalmente para depois realizar o registro.

Também pude perceber a importância de trabalhar os conceitos de multiplicação e divisão nos primeiros anos do ensino fundamental, para que tais conceitos sejam melhor compreendidos nos anos seguintes.

Estes foram observações de alguns erros que sempre cometi. Mas também faz-se necessário comentar os acertos. Abaixo deixo o registro dos meus alunos do terceiro ano brincando de "Mercado", trabalhando o sistema monetário, adição, subtração entre outros conteúdos em uma atividade bastante lúdica:







Meio Ambeinte e Sustentabilidade

Quando falamos em meio ambiente nas escolas, vejo que a maior preocupação das professoras é trabalhar a questão da reciclagem do lixo seco com seus alunos. E eu não acho isso errado. Porém, acredito que este não deva ser o principal enfoque.

Acredito que devamos tratar com nossos alunos sobre a sustentabilidade e a relação que temos com os objetos e o consumo, principalmente. O discurso deve estar muito mais pautado no "não produzir lixo" do que no "o que fazer com o lixo".

No mês de novembro, levei os meus alunos no Museu de Porto Alegre José Joaquim Felizardo e combinei que antes da visitação, faríamos um piquenique. Como de praxe, os alunos trouxeram lanches industrializados, tais como salgadinhos e refrigerantes.

Depois de terem realizado o lanche, convidei a turma a observar como havia ficado a lixeira do museu: cheia de embalagens plásticas e garrafas de refrigerante.

Questionei-os sobre como produzimos lixo e de que forma poderíamos produzir menos lixo ou um lixo que se decompusesse de forma mais rápida e natural. Fiz os alunos enxergarem que se tivessem trazido frutas, o lixo que produziriam seria apenas de cascas e sementes, que facilmente voltam para a natureza.

Acredito que quando tratamos de meio ambiente, temos que pensar na nossa relação com o planeta e o nosso papel de cidadão em relação ao consumo. Este sim é um dos papéis da escola: o de ensinar a questionar a ordem vigente.

Uma das ferramentas para isso pode ser esta linda música de um dos meus artistas favoritos, Chico César. Seja para usar em sala de aula com os alunos maiores ou para nos fazer pensar enquanto professores.


O papel da educaçao

O maior pensador da educação brasileira, para mim, sempre será Paulo Freire. A minha frase favorita dele é a seguinte:

"Não basta saber ler que 'Eva viu a uva'. É preciso compreender qual a posição que Eva ocupa no seu contexto social, quem trabalha para produzir a uva e quem lucra com esse trabalho."
(Paulo Freire)

Sempre lembro desta frase quando pego o plano de estudos do ano para o qual vou lecionar. Sempre penso: "Por que e para que determinado conteúdo está ali".

Acredito que o conhecimento deva servir para o indivíduo compreender o mundo em que vive, como se estrutura a sociedade, como funcionam os meios de produção, como se organiza a política, como os indivíduos se organizam em sociedade, ... E, principalmente, a educação deve fomentar os questionamentos sobre tudo isso que citei.

A educação deve ser a mola propulsora para a transformação da sociedade. Ainda, segundo Paulo Freire:

"Se a educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela tampouco a sociedade muda."
Paulo Freire

Representatividade: heróis negros

Joguei as palavras "super-herói" no Google e umas das primeiras imagens que apareceu foi esta:

 A primeira vista, podemos perceber que a maioria dos heróis da imagem é branco.

Acredito que seja dever dxs professorxs apresentarem aos seus alunos uma representação de heróis e personagem do maior tipo possível de cores e fenótipos.

Neste sentido, apresentei aos meus alunos o filme "Kiriku e a Feiticeira" (o qual deixo o link abaixo, junto com uma pequena sinopse):

Sinopse e detalhes

Na África Ocidental nasce um menino minúsculo, cujo tamanho não alcança nem o joelho de um adulto, que tem um destino: enfrentar a poderosa e malvada feiticeira Karabá, que secou a fonte d'água da aldeia de Kirikou, engoliu todos os homens que foram enfrentá-la e ainda pegou todo o ouro que tinham. Para isso, Kirikou enfrenta muitos perigos e se aventura por lugares onde somente pessoas pequeninas poderiam entrar.

Apresentei este filme para minhas duas turmas (uma de primeiro ano e outra de terceiro ano do Ensino Fundamental) e as crianças adoraram.

Segue abaixo alguns desenhos dos alunos sobre o filme:


















 

Lugares de Memória

Quando fui estagiária do curso de História no Memorial do Judiciário havia uma coisa que me deixava extremamente chateada quando algumas escolas faziam a visitação ao museu: o total desconhecimento das crianças e até mesmo das professoras sobre o que era aquele local, que acervo tinha, para que servia.

A visita era tratada por algumas professoras como um "passeio" e não era encarado com seriedade todo o potencial de conhecimento que aquele lugar poderia oferecer. O  texto Crianças nos templos das Musas: mediadores culturais, processos de significação e aprendizagens em museus de Maria Fernando van Erven e Sonia Regina Miranda fala bem sobre isso.

Em primeiro lugar, ir a um museu, memorial ou qualquer outro local histórico com um turma de alunos não pode ser considerado um "passeio", mas sim uma "saída de campo". Ou seja, deve-se encarar com seriedade o trabalho que se pretende realizar.

É básico que o professor que leve seus alunos conheça o local e direcione o passeio conforme os seus objetivos em aula.

Acredito que a escola deva proporcionar ao aluno acesso aos bens culturais do local onde mora, pois são raras as famílias que fazem isso pelos seus filhos, apesar de ser um direito de todos.

Abaixo estão algumas fotos dos meus alunos do terceiro ano em visitação ao Memorial do Judiciário do RS (http://www.tjrs.jus.br/site/poder_judiciario/historia/memorial_do_poder_judiciario/)






Registros Docentes

Ao realizar uma das atividades da interdisciplina de Representação do Mundo pelas Ciências Sociais, fomos convidadas a refletir sobre a fotografia enquanto comprovantes de momária docente.

Revirando minhas fotos, procurei as mais antigas que retratassem o início da minha atividade docente e encontrei estas duas pérolas:



A primeira foto é com a turma de estágio do curso de Magistério. Uma turma da antiga "terceira série". A segunda foto é mais antiga, data do início do curso no meu primeiro estágio em uma escola de educação infantil. Ambas fotos têm cerca de 13 ou 14 anos.

Impossível não se emocionar com o registro e refletir: que professora eu sonhava ser? eu sou a mesma professora do início do curso? o que aprendi? que sonhos abandonei? ainda tenho as mesmas convicções?

Sobre estes questionamentos, posso afirmar que com certeza não sou a mesma. Porém não perdi a esperança e o brilho nos olhos do início da minha carreira, apenas amadureci minhas ideias e ideais.

E sobre as fotos enquanto comprovante de memória docente, acredito que são muito válidas, pois além do registro físico (pois guardam cores, formas, rostos) também nos fazem lembrar do que fomos e do que sonhávamos ser. Há sentimentos guardados nestes registros.

Participação família X escola

Muitas vezes acabo utilizando minha conta no Facebook para escrever coisas que poderiam estar muito mais neste blog. Talvez porque não consiga dissociar minha vida profissional (que deveria estar somente neste blog) e minha vida pessoal.

Ser professora está tão entrenhado em mim quanto qualquer outra característica física ou psicológica, e acaba fazendo parte do que me define de maneira bastante significativa.

Mas o que escrevo hoje não é sobre isso, mas sim sobre esta postagem que fiz no Facebook dia 15 do mês corrente:


Bato e insisto nesta tecla! (Já falei deste tema em uma postagem no último semestre).

Onde acaba a responsabilidade da escola? Onde começa a da família? Escola substitui família? Escola ajuda família? Ou família ajuda escola?

Às vezes acho que o curso de pedagogia quer nos formar em "super-professoras", com super-poderes capazes de educar e transformar sozinhas, sem a ajuda de mais nada nem ninguém. Sem debatermos, no nosso curso, qual é o papel do Estado e das famílias na educação. Parece-me que a educação depende só de nós, e não depende.

Queria que em aula houvesse mais debates neste sentido, para criarmos ferramentas de enfrentamento em relação à sobrecarga que a escola vem sofrendo.

Muitas vezes parece-me que a academia se aliena dentro das teorias e não convive com a realidade que está diante dela mesma, nos rostos cansados das minhas colegas que vão assistir as aulas no final de um dia exaustivo, sem remuneração adequada, sem condições básicas, sem material e ainda com o peso da enorme culpa de serem as ÚNICAS responsáveis pela aprendizagem de seus alunos.

Curiosidade X Ciências Naturais

A curiosidade é algo nato nas crianças, e isso já é fato sabido por todos. Até quem é leigo na área da pedagogia mas que já tenha convivido com uma criança sabe que elas são um poço de "porquês".

É uma grande lástima, porém, que a escola acabe por tolher esta imensa fábrica de questionamentos que são as crianças. E quando falo "escola", me incluo, pois admito que minhas práticas pedagógicas, principalmente na área das ciências, muitas vezes corroboram para a seifagem da curiosidade dos alunos.

Porém, enquanto professora em eterno aprendizado que me considero ser, tenho refletido sobre minhas práticas e fiz esta pequeno manual de como tratar os conteúdos de ciências naturias.

1 - Não trazer verdades prontas.
2 - Utilizar o mínimo possível de textos e exercícios no caderno.
3 - Instigar a curiosidade dos alunos.
4 - Usar da investigação.
5 - Não desassociar as ciências naturais dos outros conteúdos.
6 - Não achar o conteúdo de ciências naturais menos importante que português e matemática.

Prometo que repetirei como um mantra esta pequena lista para tornar-me uma professora melhor (promessa de ano novo).

Muito além do registro escrito...

Muitas vezes o professor prende a sua aula apenas aos registros no papel, sendo no caderno ou nas conhecidas "folhinhas", reproduzidas em mimeógrafo ou fotocopiadora (se o professor em questão tiver sorte).

Muitas vezes estas atividades me forma de registro são cobradas pela supervisão da escola, para demonstrarem de maneira física o trabalho que está sendo realizado em sala de aula. Ou até mesmo os pais cobram que haja algo no caderno, como garantia de que o filho realmente "estudou" naquele dia.

A atividade feita através de registro também é garantia do professor, até mesmo para não ser tachado como aquele que só "deixa as crianças brincarem o dia inteiro" e não dá aula.

Porém, o professor tem que demonstrar fibra e segurança ao realizar atividades diferenciadas do registro em papel para demonstrar que tais atividades são sim possibilidades muito mais ricas do que o copiar e responder no papel.

As fotos abaixo são dos meus alunos do primeiro ano do ensino fundamental realizando atividades de classificação e seriação com palitos de picolé.

Foi fantástico observar como desenvolveram seu raciocínio através desta proposta e com o uso de materiais tão simples como palitos de picolé. Tais competências jamais poderiam ser desenvolvidas de maneira tão rica se ficassem presos numa famigerada "folhinha" ou no caderno.








Os tempos da Escola e a buricracia escolar

Já é fato sabido que a estrutura escolar atual não é condizente com a realidade, haja vista que a escola ainda está estruturada da mesma forma, salvo pequenas mudanças, desde o século XIX.

Os alunos ainda sentam em classes, na maioria das vezes enfileiradas, o professor ainda está à frente dos alunos usando, na maioria das vezes, a explanação oral para ensinar e etc.Ainda há pouco uso de recursos tecnológicos, apesar de estes estarem cada vez mais em voga entre os alunos.

Porém, além da estrutura física da escola não ser mais condizente com a realidade, os tempos da escola também demonstram estar em dissonância com as necessidades de alunos e professores.

Ao ler o texto Questões sobre o tempo no espaço escolar de Cristiane Oliveira, a questão da inadequação do tempo escolar, tanto para alunos como para professores, fica evidente.

As divisões do tempo na escola são extremamente rígidas: o ano letivo, o horário do recreio, da entrada, da saída, do planejamento do professor e etc., salvo raras exceções, são fixos e imutáveis. Qualquer alteração requer uma série de burocracias. (Aliás, a escola é campeã em ter burocracias).

Esta rigidez do tempo está totalmente em discordância com o processo de aprendizagem. Sabemos que cada aluno tem um tempo específico para aprender, pois são múltiplas as formas de aprender. Sabemos que a tarefa de planejamento de um professor é algo extremamente sutil e que não pode ser racionalizada em um espaço de tempo delimitado entre dois sinais sonoros.

Porém, como referido anteriormente, a escola está sempre à mercê da burocracia. Das papeladas, dos horários, dos calendários, ... E é muito difícil que algo seja alterado sem prévio aviso (com muita antecedência) e com uma boa justificativa.

É preciso trazer para dentro das escolas e, principalmente, das secretarias de educação, o debate sobre as reais necessidades de tempo da escola que vão muito além de papéis, calendários e cronogramas.


Revendo a prática pedagógica: Ensino de Matemática


Uma das principais características de um bom professor, como nos ensina Paulo Freire no livro Pedagogia da Autonomia, é a capacidade de rever constantemente a sua prática pedagógica a fim de sempre se aprimorar.

Este semestre tenho feito muito isso, principalmente na área do ensino da matemática.

A minha fala mais recorrente (pra não dizer "a minha desculpa mais esfarrapada") foi o fato de não ter material ou não ter tempo para construir jogos matemáticos para os alunos.

Ao realizar uma das atividades da interdisciplina de Representação do mundo através da Matemática, que consistia em aplicar uma adaptação dos jogos que vimos no site, me dei conta de como minha prática na área da matemática deve ser revista.

A construção do jogo foi muito simples, consistia em pequenas fichas com números de 0 a 9. Em menos de 10 minutos eu fiz as fichas em EVA.

O resultado do jogo foi maravilhoso. Os alunos exploraram aquele material de diversas formas, trocaram seus conhecimentos, os que sabiam mais ensinavam os que ainda não tinhas as mesmas competências. Jogaram o jogo conforme as regras que eu ensinei, depois começaram a criar novas regras e, logo, novos jogos, com o mesmo material.

Fica a lição de Freire, cada vez mais latente: rever sempre a sua própria prática docente.




domingo, 27 de novembro de 2016

Mês da Consciência Negra


Para o mês da Consciência Negra, dei como tarefa de casa uma pesquisa: escolher alguém negro  que você admira (famoso ou não) e realizar uma pesquisa.

Alguns alunos escolheram cantores, jogadores e futebol e atores. Porém, meu aluno Ruan escolheu o seu avô e fez esta linda entrevista com ele. Fiquei muito emocionada quando li, tanto pela entrevista em si (muito bem estruturada e com perguntas bem elaboradas) como pelo conteúdo. Lindas palavras do avô e o encerramento do neto, dizendo estar disposto a aprender com seu avô.






domingo, 6 de novembro de 2016

Aquele carinho...

Cansada, atarefada, com salário parcelado, desvalorizada perante à sociedade... Às vezes dá vontade de largar tudo! Muitos colegas dizendo que vão fazer concurso para outra área. As colegas mais velhas aconselhando: "Tu és nova, podes começar uma carreira em outra área! Deixa o magistério, isso não te dará futuro!"

Sim, dá aquela vontade de largar tudo, de fugir...

Então tu olhas a carinha daquele aluno... Aquele sorrizinho, aquele beijo no final da aula, aquela florzinha que ele achou no caminho até a escola e te trouxa de presente... Aquela cartinha, feita com tanto esmero e dedicação...

Aí tu te lembras que o teu trabalho pode ser o início de uma pequena luz de acendendo diante do atual momento obscuro que estamos vivendo... E tu tomas aquela injeção de ânimo que faz a gente continuar...






O mês da Consciência Negra em POA

Já pensando no mês da Consciência Negra, levei meus alunos do terceiro ano ao museu de Porto Alegre José Joaquim Felizardo. E não poderia ter realizado uma ação mais acertiva!

A historiadora que nos acompanhou, falou sobre a história da casa que hoje abriga o museu, que foi construída com maioria de mão de obra de negros e da importância do trabalho destes para a sociedade na época, ressaltando o quão era sacrificado o trabalho para esta população nos períodos da escravidão e pós abolição.

Acho que encontrei uma boa forma de iniciar a abordagem do tema do Mês da Consciência Negra com minha turma.


domingo, 10 de julho de 2016

Música na Escola

Sempre utilizei, de uma forma ou outra, a música como recurso didático. Sendo cantando uma música para realizar alguma atividade, ou analisando a letra de alguma música, linkando com algum conteúdo que estava sendo estudado pela turma.

Até então, achava que estava explorando todas as possibilidades que uma pessoa leiga em relação a saber tocar um instrumento musical ou dar a afinação correta à voz, poderia dar.

Porém, com os estudos da interdisciplina de Musicalidade percebi que a música pode ser usada de diversas formas e que até podemos perceber formas de ler uma partitura, coisa que antes era um mistério para mim.

Outra coisa muito importante que a interdisciplina trouxe, foi a importância dos cuidados com a voz, que é uma das ferramentas de trabalho essenciais para o trabalho do professor.

Sempre utilizo a música "O dia em que a Terra parou" de Raul Seixas para trabalhar com os alunos o dia do Trabalhador. Através da letra desta música, convido os alunos a refletirem sobre a importância de todos os profissionais para a nossa sociedade.

O dia em que a Terra parou
(Raul Seixas)

Essa noite eu tive um sonho
de sonhador
Maluco que sou, eu sonhei
Com o dia em que a Terra parou
com o dia em que a Terra parou

Foi assim
No dia em que todas as pessoas
Do planeta inteiro
Resolveram que ninguém ia sair de casa
Como que se fosse combinado em todo
o planeta
Naquele dia, ninguém saiu de casa, ninguém ninguém

O empregado não saiu pro seu trabalho
Pois sabia que o patrão também não tava lá
Dona de casa não saiu pra comprar pão
Pois sabia que o padeiro também não tava lá
E o guarda não saiu para prender
Pois sabia que o ladrão, também não tava lá
e o ladrão não saiu para roubar
Pois sabia que não ia ter onde gastar

No dia em que a Terra parou (Êêê)
No dia em que a Terra parou (Ôôô)
No dia em que a Terra parou (Ôôô)
No dia em que a Terra parou

E nas Igrejas nem um sino a badalar
Pois sabiam que os fiéis também não tavam lá
E os fiéis não saíram pra rezar
Pois sabiam que o padre também não tava lá
E o aluno não saiu para estudar
Pois sabia o professor também não tava lá
E o professor não saiu pra lecionar
Pois sabia que não tinha mais nada pra ensinar

No dia em que a Terra parou (Ôôôô)
No dia em que a Terra parou (Ôôô)
No dia em que a Terra parou (Uuu)
No dia em que a Terra parou

O comandante não saiu para o quartel
Pois sabia que o soldado também não tava lá
E o soldado não saiu pra ir pra guerra
Pois sabia que o inimigo também não tava lá
E o paciente não saiu pra se tratar
Pois sabia que o doutor também não tava lá
E o doutor não saiu pra medicar
Pois sabia que não tinha mais doença pra curar

No dia em que a Terra parou (Oh Yeeeah)
No dia em que a Terra parou (Foi tudo)
No dia em que a Terra parou (Ôôôô)
No dia em que a Terra parou

Essa noite eu tive um sonho de sonhador
Maluco que sou, acordei

No dia em que a Terra parou (Oh Yeeeah)
No dia em que a Terra parou (Ôôô)
No dia em que a Terra parou (Eu acordei)
No dia em que a Terra parou (Acordei)
No dia em que a Terra parou (Justamente)
No dia em que a Terra parou (Eu não sonhei acordado)
No dia em que a Terra parou (Êêêêêêêêê...)
No dia em que a Terra parou (No dia em que a terra
parou)


ECA - Estatuto da Criança e do Adolescente

É senso comum quando se fala em Estatuto da Criança e do Adolescente dizer que o ECA só trouxe direitos e que por isso as crianças e jovens estão sem limites, educação e respeito. Ouço esta afirmação, inclusive, de colegas professoras.

Porém discordo bastante. O Eca traz cinco direitos fundamentais à criança ao ao adolescente. São eles: 

1 - Do Direito à Vida e à Saúde
2 - Do Direito à Liberdade, ao Respeito e à Dignidade
3 - Do Direito à Convivência Familiar e Comunitária
4 - Do Direito à Educação, à Cultura, ao Esporte e ao Lazer
5 - Direito à Profissionalização e à Proteção no Trabalho

Ao analisar cada um destes direitos, eu não vejo nenhum exagero, seja na quantidade de direitos bem como no conteúdo dos mesmos. São realmente direitos básicos e fundamentais para a formação de um cidadão.

Porém o que posso acrescentar, ao analisar estes direitos é que a maioria deles, senão todos, não são garantidos de maneira efetiva pelo poder público às crianças e jovens no Brasil.

A maioria das crianças e adolescentes não tem acesso à saúde e educação públicas de qualidade, bem como a cultura, esporte e lazer são muito raros.

Sem falar da cultura machista que impera neste país, onde as mães são totalmente responsabilizadas pela educação e criação dos filhos e os homens são eximidos desta tarefa, colaborando para a não convivência familiar plena para os jovens e crianças.

Poderia ficar por muito tempo citando de que maneira o estado, a sociedade e as famílias negligenciam os direitos fundamentais previstos no ECA, mas o que eu quero destacar no momento é que não acredito que exista um exagero de direitos para os adolescentes e crianças nesta lei e que por isto a delinquência e indisciplina tenha aumentado entre eles.

Acredito que a não garantia de exercício pleno destes direitos fundamentais é que tem acarretado tais danos.


O respeito ao professor

No início do mês de maio comecei a trabalhar com uma turma de terceiro ano. Esta turma passou cerca de um mês sem professora porque a antiga professora pediu para trocar de escola pois não soube como lidar com os graves problemas de indisciplina que a turma apresentava.

Aceitei o desafio e encarei ficar com aquela turma (como boa ariana que sou, nunca nego um desafio). Porém, confesso, não tem sido fácil. Os problemas da turma são realmente muito sérios e é muito difícil trabalhar com eles. Durante estes dois meses eles apresentaram muitos avanços, porém cada dia é uma batalha.

Então surgem muitos questionamentos na minha cabeça, mas o que mais martela ultimamente é: "qual foi o momento exato em que o papel professor perdeu totalmente o respeito?"

Até o início do século passado, o papel do professor era visto como de autoridade e respeito. Muitas vezes, o professor era autoritário e a educação era excludente com aqueles que não aprendiam conforme o professor ensinava (era o aluno que devia se adaptar ao modelo de ensino e não havia possibilidade de variar a metodologia de ensino para atingir um número maior de alunos).

Claro que este modelo de professor estava errado. Gerava exclusão e tolhia a liberdade e autonomia dos alunos.

Logo começou a ser repensado por vários teóricos, passando pelos escolanovistas e o Manifesto dos Pioneiros.

Nos anos 70 e 80 teóricos como Paulo Freire falam em "amor" e "boniteza" no ato de ensinar, afim de construir um professor mais próximo ao aluno e sua realidade.

Em 1996 é recriada a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional à luz destas novas concepções de educação. O texto da nova lei trata do acesso universal e obrigatório à educação e esta como sendo obrigação do poder público.

Respondendo a pergunta que lancei inicialmente, acredito que na troca destes dois modelos de professor os quais vamos chamar de "rígido" e "amoroso", alguma coisa se perdeu e o respeito pela figura do professor tornou-se cada vez mais escasso.

Respondi, no parágrafo acima, quando o respeito pelo professor se perdeu. Porém há outro questionamento a ser feito sobre este mesmo tema: como este respeito pela figura do professor se perdeu.

E para esta questão eu não tenho uma resposta definida. Talvez com o arrocho dos salários dos professores, que até a década de 1960 era um salário digno e que com o passar dos anos deixou de se-lo. Talvez com o papel da escola que cada vez mais abraça funções que antes eram das famílias como cuidar, educar, ...

Confesso que esta questão eu ainda não sei responder.

Projetos de Aprendizagem

Diferente do que o senso comum pensa, o professor não é aquele que transfere os conhecimentos ao aluno. O papel do docente é de despertar no aluno a curiosidade sobre o saber para que ele construa o seu conhecimento.

Para que isso ocorra, o professor deve usar-se de metodologias de trabalho que cativem no aluno a curiosidade pelo conhecimento. Os projetos de aprendizagem, neste sentido, se apresentam como forma bastante eficaz.

Através da utilização dos projetos de aprendizagem, os alunos podem criar suas hipóteses, testar suas possibilidades de veracidade e chegar às suas próprias conclusões. O professor não tem o papel de trazer a resposta pronta para o aluno, mas sim de auxiliá-lo no caminho da descoberta.

Desta maneira o aluno tem a autonomia do seu processo de aprendizagem, construindo o seu próprio conhecimento. Com certeza este tipo de aprendizagem será muito mais significativa do que aquela meramente transferida, como diz Paulo Freire, de maneira bancária.

O valor dos contos de fada

Os contos de fada são de domínio da maioria das crianças: todas já entraram em contato com as histórias clássicas seja através de oralidade, ouvindo as histórias sendo contadas pelos adultos ou pelos filmes e desenhos.

Estas histórias são muito ricas em suas tramas e trazem temas muito interessantes que podem ser usados de diversas formas.

No ano de 2012 eu lecionava para uma turma de Jardim 2 com faixa etária de 5 a 6 anos e percebi que a turma tinha muito interesse pelos contos de fadas. Havia um canto da leitura na sala, e os livros favoritos da turma sempre eram eram os contos de fada.

Quando as crianças manipulavam estes livros, a frase que eu ouvis era sempre a mesma "conta esta historia pra mim?". Então iniciei um projeto com a turma com este titulo, sobre os contos de fadas. Neste projeto, eu trabalhava um conto de fadas clássico, seguido de uma releitura do mesmo. Desta forma, depois de trabalhar com a historia da Branca de Neve e os sete anões, trabalhei a historia da Pretinha de Neve e os sete gigantes.

As crianças gostavam muito de ver novas versões para a mesma historia, isso ampliava-lhes as possibilidades de interpretação. Foi um projeto bem rico.

Na foto abaixo, a turma fez um delicioso bolo de maca, provando que as macas nem sempre são envenenadas e que fazem muito bem para a saúde.

Em outro momento, a turma fez uma nega maluca com os feijões mágicos do João e o Pe de Feijão e também fizeram o pe de feijão bem comprido no papel pardo e com folhas de revista: