terça-feira, 17 de novembro de 2015

A questão racial na escola

Uma professora que está engajada na luta pela construção de uma sociedade mais juta, humana e igualitária tem por dever trabalhar a diversidade étnica do Brasil, valorizando a diversidade e incentivando o respeito a todos.

Porém, enquanto professora branca, tenho bastante dúvidas. Estaria eu abordando o tema corretamente?

Sempre considerei todos os livros e filmes sobre a temática da diversidade fossem bons, porém ao ler o texto  A diferença étnico-racial em livros brasileiros para crianças: análise de três tendências. contemporâneas percebi as diversas abordagens que este tema pode ter e pude selecionar as que achei mais interessantes.

Aproveito a oportunidade para compartilhar de um projeto que realizei em uma escola de Educação Infantil em Esteio chamado "A Boneca Negra Viajante" para que minhas colegas, tutoras e professoras possam opinar a respeito.

PROJETO A BONECA NEGRA VIAJANTE


Com intuito de oferecer subsídios e ferramentas de trabalho para que as professoras da EMEI PedacinhoComo metodologia, foi disponibilizada para a escola uma boneca negra de pano de aproximadamente um metro. Esta boneca negra não tinha rosto, cabelos ou roupas, era apenas uma boneca de pano simples. A boneca, então, passou por todas as turmas, a começar, pelo Berçário 1 até chegar ao Jardim 2B. Cada turma ficou com a boneca pelo período de uma semana.
Cada turma que receber a boneca deu-lhe um acessório para a sua caracterização como sambista (uma peça de roupa, os cabelos, sapatos ou demais acessórios) e também ficou responsável por lhe atribuir uma caraterística pessoal (nome, idade, comida preferida, etc.)
Partindo da rotina da educação infantil, onde a “rodinha” é de suma importância na rotina escolar, é um momento onde todos podem falar e serem ouvidos pensou-se na fusão destes dois momentos: a roda de samba e a rodinha escolar. Na roda pode ser apresentada e/ou confeccionados instrumentos musicais do samba, bem como demais componentes da cultura oriunda da população negra como a culinária, lendas e etc.
As atividades realizadas com a boneca ficaram a critério da criatividade das professoras de cada turma, observando os objetivos propostos pelo presente projeto.
Na turma de Maternal I a boneca ganhou um nome: Bianca Beatriz. A turma ainda presenteou a boneca com uma calcinha.
No Maternal II a boneca ganhou as orelhas e nariz. Foi realizada uma festa de aniversário para Bianca Beatriz onde ela recebeu muitos presentes (roupas, mochila, calçados e até mesmo uma banheira para que tomasse banho). A boneca passeou com a turma, foi ao refeitório lanchar e sempre dormia com uma das crianças, na hora do sono.
No Jardim I a boneca fez um bolo de chocolate com as crianças, bem como participou ativamente das atividades da rotina da turma.
Ao chegar no Jardim II, Bianca Beatriz já tinha olhos, cabelos e um álbum com fotos de sua família, que as crianças recortaram de revistas. No Jardim II, Bianca Beatriz mostrou aos alunos um instrumento musical chamado cavaquinho. Os alunos manusearam o instrumento trazido pela boneca e fizeram cavaquinhos de sucata. A boneca também mostrou a música “Sorriso Aberto” de Jovelina Pérola Negra. Os alunos gostaram bastante da música e foi feito um clipe com os alunos dançando a música junto com a Bianca Beatriz.
A culminância do projeto se deu através da exposição dos trabalhos realizados e da boneca Bianca Beatriz na Semana da Consciência Negra da escola e no saguão da Prefeitura Municipal de Esteio.
Todas as professoras trabalharam de maneira criativa e interessada no projeto e o resultado foi maravilhoso: lindos trabalhos e os alunos felizes com as novas descobertas e aprendizagens.

  do Céu colocassem em prática a Lei Federal 10.639 de 09 de janeiro de 2003, que torna obrigatório o ensino da história e da cultura da África, bem como a cultura negra brasileira e o negro na formação da sociedade nacional, (BRASIL, 2003) foi elaborado um projeto com a utilização de uma boneca negra de pano.
Este projeto também visou a construção de uma identidade pessoal positiva pelos alunos negros da escola, bem como a construção de relações de respeito e igualdade entre os alunos negros e não negros.

O principal objetivo deste projeto foi conhecer, de maneira lúdica e prazerosa, as principais contribuições culturais de origem africana do nosso país. A partir deste objetivo, procurou-se também proporcionar aos alunos conhecer o ritmo musical samba bem como os instrumentos musicais que o compõem, participar de culinárias de pratos de origem africana, construir coletivamente o personagem do sambista, conhecer alguns sambas clássicos, entre eles o “Sorriso Aberto” da Jovelina Pérola Negra, conhecer a contribuição cultural da população negra brasileira, respeitar a diversidade étnica do Brasil, construir uma identidade negra positiva, participar da roda de samba e construir instrumentos musicais de sucata.


2 comentários:

  1. Olá Núbia. Interessante o enfoque sobre a dúvida em saber se você,professora do Ensini Fundamental, estaria trabalhando de maneira satisfatória a diversidade étnica em nosso País. Na sequência relata que a leitura proposta na Interdisciplina Infâncias de 0 a 10 Anos, leitura esta que versa sobre diferentes abordagens da questão étnico-racial, auxiliaram para que pudesse escolher criteriosamente as leituras posteriores a serem realizadas com a turma. Consistente tua escrita, apesar de sucinta.

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  2. Obrigada pelo comentário, Mara! Um bom semestre para nós!

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