quarta-feira, 18 de novembro de 2015

Rosa é de menina e Azul é de menino

Quantas vezes não ouvimos esta premissa? Vivemos numa sociedade que quer definir os locais para cada gênero, como se houvesse lugares e hábitos próprios para o masculino e para o feminino.

Tenho um aluno da Educação Infantil que se identifica somente por brinquedos "de menina", ou seja, ele é um menino que identifica-se com o gênero feminino. Para ele é um grande sofrimento quando o colocam na "fila dos meninos" ou lhe dão um brinquedo "de menino".

No começo fiquei assustada. Não pelo fato de ele se identificar com brinquedos de um gênero diferente do seu sexo (embora acredite que os órgãos genitais de uma pessoa em nada tem haver com o gênero que ela se identifica e muito menos com sua orientação sexual). O meu medo foi: como lidar com ele e com a turma? Como lidar com os pais dele? E com os pais dos outros alunos?


Minha primeira atitude foi trabalhar com a turma, reforçando que não existem brinquedos, cores, lugares e brincadeiras de menino e de menina. Que todos deveriam brincar com o que quisessem.

Notei que as meninas começaram a explorar mais os jogos de encaixe e os carrinhos. Os meninos, de uma maneira mais tímida, ficaram mais à vontade para brincar com as bonecas Barbie e Polly. Também se escondiam no canto da sala para experimentar as maquiagens. Logo aquela curiosidade cessou e todos voltaram para os "brinquedos de seu gênero", mas algumas vezes trocam estes brinquedos de maneira natural e espontânea.


Houve o caso de um aluno que foi flagrado pela sua mãe brincando de escolinha com as bonecas e mamadeiras na escola. Ele me relatou que, em casa, a mãe disse que o visse brincando de bonecas novamente na escola ele iria apanhar.

Um outro colega, ao ouvir o relato, resolveu a questão dizendo:

- Faz assim, ó, Brinca de boneca só até a hora do lanche, porque a tua mãe só vem te buscar depois do lanche. Depois da hora do lanche tu brinca de outra coisa.

Depois desta combinação entre as crianças, a questão se resolveu.

A questão de gênero ainda é tabu nas escolas. E, pasme, não só por causa das famílias, mas muitas colegas professoras tem enorme dificuldade em entender o que é orientação sexual e gênero. Não foram raras as vezes em que alguma colega se referiu com ar de deboche ou desdém ao aluno que referi no começo do texto, dizendo que a culpa de ele ser "assim" era da mãe dele que queria uma menina.

Assim como várias outras questões que permeiam a educação, que estão presentes ou não nos temas transversais, tem que ser trabalhadas nas escolas de maneira livre e espontânea, abandonando antigos tabus e preconceitos.


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