domingo, 5 de agosto de 2018

Mães analfabetas

Neste semestre quando vi que teria a interdisciplina de Educação de Jovens e Adultos o primeiro pensamento que me veio a mente foi a imagem de Paulo Freire. Fiquei tentando imaginá-lo com os operários trabalhadores da construção civil em Brasília sendo alfabetizados.

Em seguida me veio à mente as mães de alunos que conheci e que eram analfabetas. O quanto me doeu quando nas entrevistas no começo do ano letivo ao perguntar a escolaridade delas ver elas baixarem a cabeça e dizerem:

- Eu não sei assinar, não, professora.

Eram mulheres com menos de 30 anos, mas com aparência castigada pelos percalços da vida que pareciam de quase 50. Mulheres da minha faixa etária, humildes e envergonhadas de sua condição de analfabetas. Como se fossem culpadas, como se fossem desleixadas. Quase como se fossem criminosas consigo mesmas.

Trabalhadoras de 40, 44 horas semanais, com três ou mais filhos, muitas vezes até netos, moradoras de periferias distantes dos grandes centros, dependentes de um sistema de transporte público demorado, desconfortável e caro. Seria injusto dizer-lhes que poderiam voltar a estudar se quisessem.

Pensei então que na educação de seus filhos, estas mulheres poderiam se autorrealizar. Que vendo seus filhos lendo e escrevendo, poderiam ficar felizes e ver que este ciclo não se repetiu. E este tem sido meu esforço desde que o ano letivo iniciou.

Ao olhar os filhos destas mulheres, perceber que não convivem em um ambiente alfabetizador em casa, que o único local que lhes proporciona o acesso a livros, a textos, a letras é a escola percebo o quanto a tarefa de alfabetiza-los é ao mesmo tempo nobre e penosa.

Mas é por eles e por suas mães que me esforço, que dou o máximo de mim.

"E aí me dá uma tristeza
No meu peito
Feito um despeito
por não ter como lutar
E eu que não creio
Peço a Deus por minha gente
É gente humilde
Que vontade de chorar"

Música "Gente Humilde" de Chico Buarque de Holanda


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